sábado, 5 de março de 2016

O Pentecostalismo é Dispensacionalista?

    


    Muitos afirmam, inclusive muitos pentecostais, que o pentecostalismo é dispensacionalista. Evidenciam as sete dispensações como a propaganda do seu posicionamento escatológico. Realmente, a questão do pré-tribulacionismo com o arrebatamento da Igreja antes da Tribulação que, segundo eles, acontecerá por sete anos, juntamente com a ideia do pré-milenismo, foi e é amplamente divulgado e pregado pelos pentecostais. Na verdade, isso é uma questão quase que extremamente obrigatório para os pentecostais. Contudo, será que essas crenças fazem com que pentecostais sejam dispensacionalistas?

    O teólogo dispensacionalista mais famoso, Charles Ryrie, que recentemente foi para a Glória, asseverou que três aspectos essenciais para ser dispensacionalista são: interpretação literal, diferença entre Israel e a Igreja e a glória de Deus através da história.¹ Com isso, mais precisamente o segundo ponto, já basta para concluirmos que o pentecostalismo, estritamente, não é dispensacionalista, porque os principais teólogos pentecostais não defendem a separação ou distinção entre Israel e Igreja. Vejamos o que escreveu o teólogo pentecostal Gary B. McGee no clássico livro Teologia Sistemática - Uma Perspectiva Pentecostal editado por Stanley Horton e publicado no Brasil pela CPAD: "Durante muitos anos, o ensino das Assembleias de Deus a respeito dos eventos futuros havia tido forte orientação dispensacionalista (compartilhava da crença nas sete dispensações, no arrebatamento antes da Tribulação e na interpretação pré-milenista das Escrituras, mas deixava de lado uma doutrina chave do dispensacionalismo: a seperação entre a Igreja e Israel).²

    Com base no que foi escrito por McGee acima e pelo maior representante do dispensacionalismo, Ryrie, podemos, ressalto, concluir que o pentecostalismo não é dispensacionalista, pois, segundo Ryrie, é essencial para ser dispensacionalista crer na distinção entre Israel e a Igreja. McGee na frase seguinte desta citação aborda que somente poucos teólogos pentecostais creem nisso. Nem o considerado maior teólogo pentecostal, Stanley Horton, cria assim. O teólogo pentecostal Raymond L. Gannon escreveu e citou o texto de Horton, onde este rejeita o dispensacionalismo e a questão chave do dispensacionalismo, ou seja, a distinção entre Israel e a Igreja: "Enquanto mantém sua teologia pré-milenista da Segunda Vinda, Horton rejeitou o esquema dispensacionalista como não tendo um apoio bíblico adequado. Horton afirmou 'Quando eu estava ensinando e pregando, eu enfatizava que Deus tem um único plano (que inclui tanto Israel quanto a Igreja) e um caminho de salvação'. Ensinando apenas o que a Bíblia diz, 'automaticamente exclui muito das ideias dispensacionalistas'.³

    Para finalizar, vendo a obra Teologia Sistemática Pentecostal, escrita por teólogos pentecostais assembleianos da CPAD, como Antonio Gilberto, Claudionor de Andrade, Esequias Soares e outros, não há sequer menção que eles próprios se declaram dispensacionalistas e nem uma definição crucial, que já vimos mencionada por Ryrie, entre a distinção entre Israel e a Igreja. O pentecostalismo pode ser pré-milenista, pré-tribulacionista, adepto das sete dispensações, contudo, não pode ser classificado como o divulgador e adepto pleno do dispensacionalismo. 

    Graça e Paz.

  Marlon Marques

  Fontes: 

¹ https://www.raptureready.com/featured/ice/WhatIsDispensationalism.html

² HORTON, Stanley M., Teologia Pentecostal, Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 32-33

³ https://agts.edu/encounter/articles/2008_winter/gannon.htm

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