quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Emil Brunner Contra o Estado Coletivista

      "Esta inversão da estrutura do Estado que, em vez de ser construído de baixo para cima, é organizado a partir de cima, é a única grande iniquidade do nosso tempo, a iniquidade que se sobrepõe a todas as outras, e as gera de si mesmo. A ordem da criação é virada de cabeça para baixo, o que deve ser o último é o primeiro. O excepcional, o subsidiário, tornou-se o principal. O Estado, que deve ser apenas a casca da árvore sobre a vida da comunidade, tornou-se a própria árvore. ". [Emil Brunner]
      O teólogo neo-ortodoxo Emil Brunner foi ordenado na Igreja Reformada Suíça e foi professor de teologia sistemática na Universidade de Zurique, onde ensinou continuamente, com exceção de extensas palestras nos Estados Unidos e na Ásia. Ele, junto de Karl Barth, buscou reafirmar os temas centrais da Reforma Protestante, defronte do clima predominante da teologia liberal. Embora, como Barth, ele fosse atraído para o socialismo religioso no início da vida, começou a olhar para o socialismo religioso como uma "ilusão bonita" após os horrores da Primeira Guerra Mundial. Além disso, aqueles horrores renderam frutos. Brunner encontrou algo mais terrível ainda: o moderno, totalitário, ateu, e coletivista Estado. Em resposta, ele se sentiu obrigado a formular um sistema abrangente de ética social cristã a partir de uma visão reformada, bíblica e personalista.
      A ética social de Brunner toma como "dado primário" o "ser humano" criado à imagem de Deus e "predestinado para a comunidade." A partir desse dado, ele veementemente critica o Estado coletivista como o "cúmulo da injustiça." De acordo com Brunner, a falha primária do coletivismo é que ele ignora a individualidade dada por Deus e da dignidade da pessoa humana. Da mesma forma, Brunner avança em críticas ao individualismo radical posto pela teoria democrática moderna, pois vê a comunidade como meramente instrumental aos desejos dos indivíduos totalmente autossuficientes. Embora esta conclusão difira da teoria política liberal clássica estritamente definida, os insights de Brunner sobre antropologia teológica têm um valor considerável para os pensadores sociais cristãos.
      O pensamento social de Brunner mais se coaduna com o liberalismo clássico em sua compreensão sobre o melhor regime, que ele chama de "federalismo", isto é, "o Estado construído de baixo para cima." De acordo com Brunner, Deus ordenou certas "ordens da criação" que são parte da graça preservadora de Deus para organizar a vida humana. Essas ordens incluem comunidades humanas na esferas intelectuais, puramente sociais, técnicas e econômicas. Brunner é muito explícito, no entanto, essa comunidade não é o mesmo que o Estado; Na verdade, tais ordens criacionistas existem sem o Estado e antes dele. Por exemplo, a família é a "comunidade primitiva" cujos "direitos têm precedência absoluta" sobre qualquer outra instituição. Além disso, entre a família e o Estado estão uma "série de elos intermediários", cada qual ordenado por Deus para determinados fins, que o Estado não é para usurpar, mas preservar e proteger. Assim, o estado é severamente limitado no seu âmbito de autoridade legítima.
Fonte: Justiça e ordem social por Emil Brunner (Lutterworth Press, 1945), e Política e teologia protestante: uma interpretação de Tillich, Barth, Bonhoeffer, e Brunner por René de Visme Williamson (Louisiana State University Press, 1976).
*Texto extraído deste link sobre política e religião.

Tradução: Marlon Marques

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

PODE UM CRISTÃO PARTICIPAR DA GUERRA?






Alguns cristãos têm acreditado que a esfera do Reino de Deus e a esfera do governo civil, embora igualmente válidas e necessárias, são mutuamente excludentes. Assim, nenhum indivíduo pode atuar consistentemente em ambas ao mesmo tempo. Pacifistas que consideram que o Estado desempenha uma função necessária veem-no, ainda, como algo mau ou que necessariamente se utiliza de meios maus para atingir seus fins. Desse modo, quando uma pessoa se torna cristã, pode entrar no Reino de Deus somente se separando do Estado. Cabe-lhe escolher obedecer a um ou ao outro; não pode obedecer a ambos. Isto se aplica especialmente à questão da participação na guerra, a qual é quase sempre feita em nome do governo civil. Se uma pessoa é cristã, não pode agir em nome do Estado; logo, não pode se engajar na guerra sob quaisquer circunstâncias. Assim dizem muitos cristãos.

Por outro lado, a maioria dos cristãos, entre os quais me incluo, têm crido que, embora a Igreja e o Estado sejam distintos e desempenhem diferentes papéis, eles não conflitam um com o outro, mas se complementam. Os padrões de conduta que se aplicam aos indivíduos, por um lado, e ao Estado, por outro, são distintos e diferentes, mas não são contraditórios e excludentes. Nenhum é superior ou mais nobre do que o outro. Não se aplica um a cristãos e o outro a não cristãos; ambos se aplicam a todas as pessoas.

Quando cumpre o propósito para o qual Deus lhe ordenou, o governo civil não é mau, nem exerce uma função má. É servo de Deus (Rm 13.1-4); seus objetivos e deveres são designados por Deus. São corretos. E se as funções estatais, inclusive a guerra defensiva, são CORRETAS (e elas são), então são CORRETAS para os cristãos. As normas divinas se aplicam a todos igualmente. As regras de Deus para conduta pessoal (p. ex., o Sermão da Montanha) destinam-se a incidir, do mesmo modo, a todas as pessoas. Não constituem uma norma restrita aos cristãos somente (ainda que os cristãos sejam os únicos que as respeitem realmente). As normas para as atividades civis oficiais também se aplicam, igualmente, a todas as pessoas, crentes e descrentes sem distinção. Tudo quanto é correto para não crentes no exercício do serviço público é correto para os cristãos também.

Um cristão pode, pois, tomar parte em qualquer atribuição legítima do Estado, até mesmo da guerra, se defensiva. Não se trata de violação ao ensino de Cristo a respeito de conduta pessoal (isso significa que os cristãos também podem ser agentes de polícia).

A conclusão é que os cristãos podem e devem responder ao “chamado às armas” para participação em uma “guerra justa”. Já que aos cristãos se ordena submissão à autoridade civil, é errado recusar o alistamento ou a convocação militar, caso necessária. Seguindo os princípios bíblicos para a desobediência civil, no entanto, um cristão deve desobedecer a autoridade civil, se requisitado a fazer algo errado. O cristão deve julgar as atividades de seu governo. Se este lhe ordena a participar daquilo que entende ser uma guerra injusta, em boa consciência ele deve declinar (e aceitar as consequências). Isso é denominado objeção de consciência seletiva. É a única posição consistente com a noção de “guerra justa” (Infelizmente, o governo dos Estados Unidos não reconhece a validade dessa posição*).

Embora o pacifismo, por si só, não seja uma posição bíblica, a consciência de um pacifista – ainda que equivocada – deve ser respeitada.

            Seja sociável, compartilhe!

Tradução: Wesiley Monteiro 


* Nota do tradutor: no Brasil, a Lei 8.239/1991 regulamenta a prestação de serviço alternativo ao serviço militar obrigatório prevista na Constituição Federal de 1988, que assim dispõe:  - “Art. 5º, VIII: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”;  - “Art. 143: O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir”.


sábado, 3 de setembro de 2016

Deus se importa como votamos





Um sermão pregado por Jack Cottrell na Primeira Igreja de Cristo, Greendale, IN, 22 de maio de 2016.

      Apenas para que não haja mal-entendidos, EU NÃO estou colocando a pergunta: "Será que Deus nos diz EM QUEM votar?" Eu não revelarei algum método secreto para descobrir uma mensagem escondida  em textos sobre trombetas ou colinas [Cottrell aborda o cenário de eleição norte-americana e faz um jogo de palavras com as palavras trombetas e colinas destacando os presidenciáveis TRUMPets or HILLs] ou quaisquer dessas coisas. 

      Além disso, o que eu estou dizendo aqui se aplica não só para votar para presidente, mas para votar em todos as áreas, e aplica-se não apenas nos E.U.A. em 2016, mas para todos os tempos e lugares onde os cidadãos têm o privilégio de votar.

I. Primeiro eu preciso perguntar: isso é uma questão legítima PARA DISCUTIR NA IGREJA?

      A ideia comum é esta: "Você não deve misturar política e religião." Mas antes de aderir a esta "sabedoria popular", você pode querer saber que a primeira pessoa a "misturar" política e religião foi o PRÓPRIO DEUS! Ao longo da Bíblia, Deus combina estes dois assuntos quando se dirige a reis e governos com comandos e instruções sobre o que devem fazer e não fazer.

      Precisamos entender que a Bíblia não trata apenas sobre religião, é uma visão de mundo. É SOBRE TUDO! Seus princípios se aplicam à educação, à economia, ao entretenimento, ao trabalho, à vida familiar, e sim - para o GOVERNO! A mensagem da igreja para o mundo não é apenas sobre o Evangelho, é sobre a vida humana em geral, como Deus espera que ela seja vivida nesta terra.

      A linha inferior aqui é que o governo humano é ideia de Deus e a criação de Deus. Romanos 13:1-2 diz: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores. Pois não há nenhuma autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram instituídas por Deus. Portanto, aquele que resiste às autoridades, resiste ao que Deus designou, e os que resistem trazem juízo sobre si mesmos".

      Esta passagem mostra que Deus somente, como o Criador soberano, tem autoridade inerente dentro de si mesmo, mas também mostra que ele instituiu ou nomeou vários tipos de autoridade humana delegados. "Essas (as autoridades) que existem" incluem os anciãos dentro da igreja;, maridos dentro do casamento (Ef 5: 22-23; 1 Pedro 3: 1.) (1 Tm 5:17 Hebreus 13:17..), e os pais dentro da família (Êxodo 20:12; Ef 6: 1-2.). E sim, isso inclui o governo humano ( "autoridades superiores"), que incluem todos os LEGISLADORES (por exemplo, congresso, senado, câmaras municipais) e APLICADORES DA LEI (por exemplo, policiais, juízes, tribunais de justiça).

      Isso é extremamente importante: este texto não significa que Deus determina cada governo específico ou que ele determina cada governante específico. Significa apenas que ele estabeleceu a instituição do governo humano como tal. Devido a isso, aqueles que servem no governo (como os legisladores e aplicadores da lei) são servos de Deus (Rom. 13: 4, diakonos) (Rom. 13: 6, leitourgos) e ministros de Deus. Isto porque, se eles estão fazendo a coisa certa, eles estão realizando a vontade de Deus.

      Assim, já que o próprio Deus estabeleceu o governo, ele deve ter um PROPÓSITO para ele, algo que Ele pretende realizar para ele, algo que Ele ordena que ele faça. Isso nos leva a perguntar: Por que Deus quer que o governo exista? E isso, claro, leva-nos à nossa questão principal:

II. Como isso se relaciona às eleições e votações?

      No caso de você não ter pensado sobre isso, Deus em sua Palavra não especifica qualquer tipo de governo, como (por exemplo) a monarquia, a ditadura, a democracia, ou a república. Seu propósito para o governo pode ser satisfeito por várias formas. Mas aqui está o ponto: a Palavra de Deus ESPECIFICA o que cada governo deve fazer, ou seja, Ela revela o propósito para o qual Ele estabeleceu. A Bíblia nos diz que Deus espera dos governos.

      Infelizmente, a maioria dos governantes humanos não tem acesso ou simplesmente ignora a Bíblia e seu ensino sobre o governo. Eu não acho que ninguém é totalmente ignorante disso. Meu julgamento é que isso é parte do que está escrito no coração do homem em virtude de sermos feitos à imagem de Deus (Rom. 2: 14-15; cf. 1,32). É uma questão de razão, senso comum, ou intuição moral. Podemos esperar esse conhecimento, apesar de ser borrado e manchado pelo pecado. É por isso que é importante saber que o propósito de Deus para o governo é revelado na Bíblia! E quem hoje são os administradores ou responsáveis ​​pela Bíblia? O povo de Deus, os CRISTÃOS! (Compare Romanos 3: 2.) Se alguém deve saber o propósito do governo, são os cristãos!

      Assim: em um país como os EUA, onde conseguimos votar para líderes do governo, quem está na melhor posição para saber a melhor forma de votar? Aqueles de nós que acreditamos e compreendemos a Bíblia! Que privilégio! Que responsabilidade! Ao votar, você está ajudando a colocar a palavra de Deus na prática!

      Então, Deus se importa como votamos? SIM! ABSOLUTAMENTE! Não só ele se importa como votamos, Ele QUER que votemos, como guiados por sua Palavra! Ele quer que votemos para os candidatos que, no nosso melhor julgamento, são mais propensos a usar o poder do governo para cumprir os propósitos que a Palavra de Deus diz que é cabível realizar!

      Um cuidado: isso não quer dizer que o melhor candidato será sempre um cristão. A questão é esta: o que é que o meu candidato acredita sobre o propósito do governo? Será que a sua visão é a que Deus tem revelado? Infelizmente, alguns políticos cristãos têm um entendimento totalmente errado desta questão. Por exemplo, alguns têm confundido o propósito e papel do governo com o da igreja, o que leva ao desastre. Concluímos que se a pessoa é cristã, é importante, mas não é o fator decisivo. Às vezes um não crente pode ter fundamentado o seu caminho para a visão bíblica do propósito do governo, sem perceber que ele está na visão bíblica!

III. ENTÃO, SEGUNDO A BÍBLIA, QUAL É O PROPÓSITO DO GOVERNO?

      Podemos resumir isso em "dois do P": O trabalho do governo é PROTEGER e PUNIR.

      Em primeiro lugar, objetivo principal do governo é proteger os DIREITOS de todos os cidadãos. O que são esses "direitos"? Nossos documentos governamentais tocam nisso. A nossa declaração de independência americana diz que os nossos "direitos inalienáveis" incluem "vida, liberdade e a busca da felicidade." Este "direito à vida" inclui o direito de cada criança nascer para se manter viva. O direito à liberdade inclui nossas liberdades de expressão, religião, trabalho e propriedade de bens. O direito de buscar a felicidade é simplesmente o direito de viver em paz, livres do medo daqueles que querem violar os nossos direitos.

      Pode-se também estudar a Declaração dos Direitos dos Cidadãos Americanos ou as dez primeiras emendas à Constituição dos EUA.

     Mas estes documentos não têm a autoridade da Bíblia. A única descrição de autoridade do governo que deve proteger os direitos de todos são encontrados na Palavra de Deus, especificamente em 1 Timóteo 2: 1-4, "Primeiro de tudo, então, peço que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em posições elevadas, que podem levar uma vida calma e pacífica, piedosa e digna em todos os sentidos. Isso é bom, e é agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. "

      Note-se que aqui Deus está nos dizendo para orar por aqueles que nos governam, mas para quê? Ele diz que devemos orar pelo que eles irão fazer em determinadas coisas, e estas são as coisas que Deus quer que elas sejam realizadas, as mesmas coisas que ele estabeleceu o governo a fazer.

      Incluído aqui, é o trabalho do governo proteger o nosso direito de "levar uma vida pacífica e tranquila," nosso direito de viver em paz e segurança, livre do medo daqueles que querem fazer-nos mal. Assim, é o trabalho do governo nos proteger contra ameaças externas para nossas liberdades; é por isso que temos exércitos. É o trabalho do governo nos proteger contra as atividades criminosas, como assassinato, estupro e roubo; é por isso que temos polícia. É também o trabalho do governo nos proteger contra comportamentos imprudentes, egoístas e prejudiciais, tais como conduta imprudente, ruídos intrusivos, e "perturbar a paz" em geral.

      Este texto de Timóteo também nos diz que devemos orar para que o governo nos permita levar uma vida "piedosa e digna" (v. 2) e, neste contexto, que nós devamos ser capazes de evangelizar e falar a verdade abertamente. Este último é visto no v. 4, que indica que quando o governo faz o seu trabalho, o desejo de Deus para que "todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" pode ser cumprido. O que isto está abordando, então, é o que chamamos de liberdade de religião, o que inclui o direito de compartilhar o Evangelho e pregar a verdade. Estes são direitos que o governo deve proteger.

      Tragicamente, às vezes (até agora) o próprio governo é a própria entidade que viola esses direitos, por exemplo, permitindo o aborto, suprimindo o cristianismo, e destruindo a família. Estas são coisas que o nosso próprio governo está atualmente fazendo, coisas que são exatamente o oposto do propósito de Deus para ele! E muitos cristãos votaram nos responsáveis ​​por estas atrocidades!

      O ponto é este: o propósito do governo é PROTEGER os direitos descritos em 1 Timóteo 2: 1-4, isto é, para se PREVENIR de que ninguém nos impeça de desfrutar esses direitos. É uma abominação quando o próprio governo é aquele que tira esses direitos.

      Aqui estão dois pontos que precisamos manter em linha reta sobre os "direitos." Primeiro, nenhum ser humano tem o "direito" de fazer apenas "qualquer coisa que ele/ela quer fazer." Infelizmente, esta é a forma como algumas pessoas entendem seus "direitos".Aqui está uma citação de um homem chamado William Powell, autor de O Manual do Anarquista. "Se eu realmente quero fazer alguma coisa, eu não me importo se é legal, ilegal, moral, imoral ou amoral. Eu quero fazê-lo, então eu vou fazê-lo. "NÃO! Este não é o conceito de "direitos". Especificamente, nós não temos o direito de fazer qualquer coisa que viole os direitos de outra pessoa. É especificamente o trabalho do governo LEGISLAR CONTRA tal atividade, e  PUNIR aqueles que fazem tais coisas. Além disso, não temos o direito de fazer alguma coisa que Deus proibiu. (Por exemplo, não existe tal coisa como "direitos dos homossexuais".) Mesmo se não é o trabalho do governo punir tais atos (quando eles não violem os direitos de outra pessoa), ainda este não é um "direito" que o governo deve proteger.

      Segundo, o trabalho do governo é PROTEGER os nossos direitos, por exemplo, oportunidades de trabalho, oportunidades de educação, direito de propriedade, cuidados de saúde. MAS NÃO é o trabalho do governo FORNECER-nos tudo o que temos direito. "Justiça" não é igual a propriedade, mas a igualdade de oportunidades. Socialismo (igualdade forçada de propriedade baseada nos falsos "direitos") não é bíblico.

      Voltando agora para o segundo e secundário propósito do governo, a Palavra de Deus especifica que os governantes foram nomeados por Deus para punir malfeitores, ou seja, aqueles que tenham violado os direitos dos outros. Isto é claramente indicado em dois textos. Romanos 13:3-4 diz: "Porque os magistrados não são terror para a boa conduta, mas para a má. Você não teme quem está em posição de autoridade? Faça o que é bom, e você receberá a sua aprovação, pois ele é um servo de Deus para o seu bem. Mas se você fizer o mal, tema, pois ele não traz a espada em vão. Porque ele é o servo de Deus, um vingador que realiza a ira de Deus sobre o malfeitor "Além disso, 1 Pedro 2: 13-14 diz:". Sujeitem por amor do Senhor a toda instituição humana, seja o imperador como supremo, quer aos governadores, como por Ele enviados para punir aqueles que praticam o mal e para louvar aqueles que fazem o bem ".

      Essa pena tem duas finalidades. Primeiro, é o que o criminoso MERECE. É retribuição, vingança (veja Rom. 12:19), e ira - a própria vingança de e cólera de Deus, aplicada através dos meios que ele nomeou. Em segundo lugar, ela serve como um IMPEDIMENTO para os potenciais infratores, causando-lhes "temor" da espada do governo. Note as referências ao "terror" e "medo" no texto romanos.

      Resumindo, estas duas finalidades - proteger e punir - pode ser chamado JUSTIÇA ou LEI E ORDEM. Estas são as duas principais coisas que devemos considerar quando estamos tentando decidir em quem votar. A visão que o candidato obtém, mais se aproxima deste ensinamento bíblico? Que é mais provável proteger nossos direitos e punir os malfeitores? Devemos também nos perguntar se o governo do candidato provavelmente irá assumir o papel de vilão e estabelecer leis e políticas que realmente suprimem nossos direitos dados por Deus.

      CONCLUSÃO: Deus se importa como votamos? SIM! Que privilégio é para nós termos uma voz na escolha de legisladores e de repressão, poderes públicos, que podem cumprir os propósitos de Deus para o governo! Que responsabilidade é para nós examinarmos tanto o ensino bíblico sobre o governo, e analisar pontos de vista dos candidatos para ver quem se aproxima do ideal bíblico. E, finalmente, que tragédia é quando nenhum dos candidatos chega perto desse ideal bíblico! Aqui é onde devemos obedecer Tiago 1: 5 e orar por sabedoria.

      Seja, sociável, compartilhe!

Tradução: Marlon Marques

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Carta de Karl Barth a Francis Schaeffer

    



    Tanto Francis Schaeffer quanto Cornelius Van Til e Oliver Buswell acusaram Karl Barth de ser um teólogo muito perigoso e que nega pilares da fé cristã. Entretanto, os três queriam, insistentemente, conversar com Barth e iam à sua procura. Van Til (que escreveu um livro detratando Barth chamado Cristianismo e Barthianismo), inclusive, quando Barth deu várias palestras nos Estados Unidos, queria, a todo custo, encontrar-se com Barth. Este, por sua vez, não queria receber Van Til devido ser muito atacado por ele e seus colegas de sua vertente teológica. 

    Abaixo, traduzi uma carta que Barth enviou a Schaeffer (que viveu muito tempo na Suíça de Barth) e que Barth, nesta mesma carta, tem como objetivo responder Buswell também. Texto traduzido deste site,

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    Bergli, Oberrieden, 3 de setembro de 1950

    Reverendo Francis Schaeffer

    Châlet des Frênes

    Champéry

    Estimado sr. Schaeffer!

    Reconheço haver recebido sua carta de 28 de agosto e seu texto "O Novo Modernismo". No mesmo dia seu amigo J. Oliver Buswell escreveu-me de Nova Iorque junto com uma crítica, "A Teologia de Karl Barth". Vejo que as coisas que você pensa sobre mim são, aproximadamente, do mesmo tipo daqueles que encontrei no livro de [Cornelius] Van Til sobre esse mesmo tema¹. E vejo que você e seus amigos escolheram cultivar um tipo de teologia, a qual consiste em um tipo de criminologia; você está vivendo do repúdio e da discriminação de todo tipo e de toda criatura semelhante, cujas concepções não são inteiramente (ou numericamente) idênticas com suas perspectivas e declarações. Você está "caminhando sobre a rocha sólida da verdade [assim como você diz de si mesmo]. Nós, pobres pecadores, não estamos fazendo como você. Eu não estou. Meu caso foi sinalizado como sem esperança alguma. O júri falou, o veredito foi proclamado, o acusado foi pendurado pelo pescoço até que morreu nesta mesma manhã.

    Bom, bom... Digamos à sua maneira: é assunto seu, e ao fazer as coisas, ao falar, e ao escrever como o faz, você deveria arcar com suas próprias responsabilidades. Você pode repudiar meu trabalho e minha obra "como um todo". Pode me chamar de nomes como mentiroso, vago, anti-histórico, desinteressado com a verdade, entre outros. Pode continuar fazendo seu trabalho de "detetive" nos Estados Unidos, na Holanda, na Finlândia e em todo lugar. Pode me desacreditar como o mais perigoso herege. Por que não? Talvez o Senhor disse-lhe que você fizesse isso.

     Porém, por que você, e para qual propósito, deseja uma conversa mais profunda comigo? O herege foi queimado e enterrado para o bem de todos. Por que você quer perder mais tempo (e o dele²) falando com ele? Estimado sr. Schaeffer, você disse que percebe que vocês estão mais perto dos antigos modernistas e do católicos romanos do que de mim e de homens como eu. Porém, por que você não prova a eficácia de sua "apologética" em alguns exercícios com estes "antigos modernistas" e com católicos romanos, que você encontrará aos montes aqui na Suíça? Por que segue perturbando este homem em Basileia, a quem derrotaram tão esplêndida e completamente?³

    Regozije-se, senhor Schaeffer (e chamem-se, vocês mesmos, os "fundamentalistas" de todo o mundo). Regozije-se e siga crendo em sua "lógica" (como no quarto artigo de seu credo) e em vocês mesmos como os únicos verdadeiros "crentes bíblicos". Grite tanto quanto puder! Porém ore, e permita-me deixá-lo em paz. As "conversas" são possíveis com pessoas de "mente aberta". Seu texto e as críticas de seu amigo Buswell revelam o feito de sua decisão de fechar as portas. Não sei como lidar com um homem que vem me ver e falar comigo na qualidade de detetive/inspetor ou com o comportamento de um missionário que vai converter um pagão. Não, obrigado!

    Seu, sinceramente.

    Desculpe meu mau inglês. Não estou acostumado a escrever em seu idioma.

    Estou enviando uma cópia desta carta ao reverendo Buswell.

    Estimado sr. Buswell!

    Li suas criticas junto com os escritos do sr. Schaeffer. Todo o conteúdo de minha carta se refere a você também. 

    Seu,

    Karl Barth 

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Notas

¹ Livro de Van Til chamado Cristianismo e Barthianismo 
² Barth fala de si mesmo na terceira pessoa
³ Novamente Barth fala de si na terceira pessoa

Tradução: Marlon Marques

sábado, 5 de março de 2016

O Pentecostalismo é Dispensacionalista?

    


    Muitos afirmam, inclusive muitos pentecostais, que o pentecostalismo é dispensacionalista. Evidenciam as sete dispensações como a propaganda do seu posicionamento escatológico. Realmente, a questão do pré-tribulacionismo com o arrebatamento da Igreja antes da Tribulação que, segundo eles, acontecerá por sete anos, juntamente com a ideia do pré-milenismo, foi e é amplamente divulgado e pregado pelos pentecostais. Na verdade, isso é uma questão quase que extremamente obrigatório para os pentecostais. Contudo, será que essas crenças fazem com que pentecostais sejam dispensacionalistas?

    O teólogo dispensacionalista mais famoso, Charles Ryrie, que recentemente foi para a Glória, asseverou que três aspectos essenciais para ser dispensacionalista são: interpretação literal, diferença entre Israel e a Igreja e a glória de Deus através da história.¹ Com isso, mais precisamente o segundo ponto, já basta para concluirmos que o pentecostalismo, estritamente, não é dispensacionalista, porque os principais teólogos pentecostais não defendem a separação ou distinção entre Israel e Igreja. Vejamos o que escreveu o teólogo pentecostal Gary B. McGee no clássico livro Teologia Sistemática - Uma Perspectiva Pentecostal editado por Stanley Horton e publicado no Brasil pela CPAD: "Durante muitos anos, o ensino das Assembleias de Deus a respeito dos eventos futuros havia tido forte orientação dispensacionalista (compartilhava da crença nas sete dispensações, no arrebatamento antes da Tribulação e na interpretação pré-milenista das Escrituras, mas deixava de lado uma doutrina chave do dispensacionalismo: a seperação entre a Igreja e Israel).²

    Com base no que foi escrito por McGee acima e pelo maior representante do dispensacionalismo, Ryrie, podemos, ressalto, concluir que o pentecostalismo não é dispensacionalista, pois, segundo Ryrie, é essencial para ser dispensacionalista crer na distinção entre Israel e a Igreja. McGee na frase seguinte desta citação aborda que somente poucos teólogos pentecostais creem nisso. Nem o considerado maior teólogo pentecostal, Stanley Horton, cria assim. O teólogo pentecostal Raymond L. Gannon escreveu e citou o texto de Horton, onde este rejeita o dispensacionalismo e a questão chave do dispensacionalismo, ou seja, a distinção entre Israel e a Igreja: "Enquanto mantém sua teologia pré-milenista da Segunda Vinda, Horton rejeitou o esquema dispensacionalista como não tendo um apoio bíblico adequado. Horton afirmou 'Quando eu estava ensinando e pregando, eu enfatizava que Deus tem um único plano (que inclui tanto Israel quanto a Igreja) e um caminho de salvação'. Ensinando apenas o que a Bíblia diz, 'automaticamente exclui muito das ideias dispensacionalistas'.³

    Para finalizar, vendo a obra Teologia Sistemática Pentecostal, escrita por teólogos pentecostais assembleianos da CPAD, como Antonio Gilberto, Claudionor de Andrade, Esequias Soares e outros, não há sequer menção que eles próprios se declaram dispensacionalistas e nem uma definição crucial, que já vimos mencionada por Ryrie, entre a distinção entre Israel e a Igreja. O pentecostalismo pode ser pré-milenista, pré-tribulacionista, adepto das sete dispensações, contudo, não pode ser classificado como o divulgador e adepto pleno do dispensacionalismo. 

    Graça e Paz.

  Marlon Marques

  Fontes: 

¹ https://www.raptureready.com/featured/ice/WhatIsDispensationalism.html

² HORTON, Stanley M., Teologia Pentecostal, Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 32-33

³ https://agts.edu/encounter/articles/2008_winter/gannon.htm