segunda-feira, 4 de maio de 2020

A JUNÇÃO DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO COM O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL: UM PIONEIRISMO METODISTA NOS ESCRITOS DE VINCENT TAYLOR E HOWARD MARSHALL

New Testament Perspectives: The Enigmatic Nature of Mark's Gospel ...                Free Online Bible Classes | Prof. I. Howard Marshall




Autor: Marlon Marques


            Muitos se perguntam se dá para juntar o método histórico-crítico com o método histórico-gramatical. Ambos os métodos hermenêuticos visam a intenção do autor bíblico, e não uma construção do sentido ou de vários sentidos do texto por parte do leitor (o que deve ser evitado). Queremos destacar que pode sim haver uma "conservartização" do método histórico-crítico. A priori, devemos entender que, geralmente, os adeptos do método histórico-crítico desconsideram a veracidade dos relatos bíblicos, mas entendem que o sentido do texto bíblico, mesmo que a história do texto bíblico seja uma invenção, só apresenta um sentido, o que o autor (ou o que se passou pelo autor) quis transmitir. Em contrapartida, os adeptos do método histórico-gramatical, que também entendem que o texto bíblico somente apresenta um sentido, acreditam que a história dos textos bíblicos é verdadeira e inspirada pelo Espírito Santo. Resumindo, ambos os métodos hermenêuticos, histórico-crítico e histórico-gramatical, partem do princípio de que só há um significado textual por parte de quem escreveu os textos bíblicos. O que eles diferem é no tocante a se os relatos bíblicos são ou não verdadeiros. Neste caso, cristãos conservadores adotam, logicamente, o método histórico-gramatical.
            A questão é se dá para um adepto do método histórico-gramatical usar o método histórico-crítico. A resposta é um sonoro sim! Um dos maiores eruditos bíblicos da atualidade, que possui vários livros já traduzidos para o português, Craig Blomberg, adota o que ele chama de método histórico-crítico-gramatical. No livro Biblical Hermeneutics - Four Views (Hermenêuticas Bíblicas - Cinco Visões), que não foi traduzido para o português ainda, Blomberg defende justamente esse entendimento hermenêutico, que é a junção do método histórico-crítico com o método histórico-gramatical.
            Dois eruditos bíblicos britânicos e metodistas, Vincent Taylor e Howard Marshall, foram os responsáveis por trazerem ferramentas do método histórico-crítico para o meio acadêmico bíblico conservador. Vincent Taylor foi o responsável por trazer para o meio conservador a crítica da forma[1], que no meio radical do método histórico-crítico, como Rudolph Bulttmann, Martin Dibelius e outros, realça que os relatos bíblicos dos evangelhos sinóticos, por exemplo, ou foram criados ou foram acrescentados pela igreja primitiva. Taylor entendia que a igreja primitiva participou somente organizando os relatos sinóticos, e não criando nem acrescentando.[2]
            Howard Marshall foi o responsável, por sua vez, pela adequação da crítica da redação ao meio conservador,[3] fato este tão importante para os pentecostais. A crítica da redação, criada no meio dos adeptos do método histórico-crítico, entende que cada escritor bíblico tem sua própria teologia. Vejamos o exemplo dos livros lucanos e paulinos. No meio conservador, geralmente, antes do lançamento do livro Luke: Historian and Theologian (Lucas: Historiador e Teólogo),[4] cria-se que Lucas somente era um historiador, e não um teólogo.[5] Para valer-se de conteúdo teológico e formular doutrinas, haveria de recorrer-se aos escritos paulinos. Antes deste livro de Marshall, somente os adeptos do método histórico-crítico entendiam que Lucas era teólogo, pois, de acordo com a crítica da redação, como vimos, todos os escritores bíblicos (ou aqueles que se passavam por tais escritores) tinham seu próprio entendimento teológico.[6] Contudo, Marshall, em 1970, com o lançamento do seu mencionado livro, afirma que Lucas era tanto um historiador quanto um teólogo de fato. Com isto, os pentecostais, que utilizavam principalmente o livro de Atos para validar seu distintivo teológico peculiar (batismo no Espírito Santo como separável e empoderador para o serviço)[7], recorreram a essa “conservatização” de um método histórico-crítico realizado por Marshall para embasarem-se academicamente e defenderem com mais respaldo o seu distintivo teológico.[8]
            Enfim, constatamos, em poucas palavras, que é possível para um adepto do método histórico-gramatical, que sempre é conservador na sua teologia, usar ferramentas advindas do método histórico-crítico, haja vista, como salientamos, os dois métodos objetivarem um significado único no texto bíblico.




[1] CARSON, D. A.; MOO, Douglas; MORIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 23-24.
[2] Ibid, p. 24.
[3] MENZIES William; MENZIES, Robert. No Poder do Espírito – Fundamentos da Experiência Pentecostal... Um Chamado ao Diálogo. São Paulo: Vida, 2002, p. 48.
[4] Publicado no Brasil como MARSHALL, Howard. Fundamentos da Narrativa Teológica de São Lucas. Natal: Carisma, 2019.
[5] Ibid, p. 44-45.
[6] Ibid, p. 46-48.
[7] STRONSTAD, Roger. Teologia Carismática de Lucas. Trajetórias do Antigo Testamento a Lucas-Atos. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 30.
[8] Ibid, p. 48, 68.

Um comentário:

Unknown disse...

Quando se aponta a dúvida da historicidade na abordagem alemã, há que diferenciar Geschichte é Historisch. Bultmann levanta a questão ele mostra que é difícil ler os Evangelho considerando como história nos termos da ciência histórica, mas sim como uma Palavra com Geschichtlich historicidade.