Eu venho lecionando em vários seminários pentecostais e lendo rotineiramente sobre a teologia pentecostal. Ao ler o livro O Pentecostal Reformado dos McAlister pai e filho, vejo uma confusão sobre o termo. O termo "pentecostal reformado" não é uma novidade deles, como entendi que eles querem passar no livro. Esse termo é referido aos pentecostais da obra consumada, que creem nas duas bênçãos, a saber, conversão e batismo no Espírito Santo (alguns desse ramo do pentecostalismo não usam mais esse termo duas bênçãos) que divergem dos pentecostais de santidade ou holiness, que criam nas três bênçãos, que são a conversão, inteira santificação e batismo no Espírito Santo. Por isso o termo "pentecostais reformados", porque é um ramo que "reformou" o entendimento pentecostal. As Assembleias de Deus e a Igreja Quadrangular, por exemplo, são pentecostais reformadas. A Igreja de Deus no Brasil (Church of God - Cleveland) e a Igreja de Deus em Cristo (Church of God in Christ) são igrejas pentecostais de santidade. Reiterando que o termo "reformado", nesse caso, não tem nada a ver com soteriologia. Logo, os McAlister não criaram nada de novo, sendo que o termo "pentecostal reformado" já existia.
Sobre ser pentecostal, é sabido que ser pentecostal é crer que o batismo no Espírito Santo acontece depois da conversão. Contudo, os McAlister veem que o batismo no Espírito Santo dá-se na conversão. Isso vai de encontro com a teologia pentecostal. Não dá para ser pentecostal e crer no batismo no Espírito Santo na conversão. Gordon Fee, eminente teólogo bíblico, é ligado às Assembleias de Deus, contudo, é altamente criticado pelos teólogos pentecostais por causa da incongruência de não crer no batismo no Espírito Santo como algo posterior à conversão. Portanto, penso, como muitos críticos da obra já afirmaram, que os McAlister não são pentecostais reformados, mas sim carismáticos reformados ou continuístas reformados.
É até curioso o fato dos McAlister se afirmarem como pentecostais reformados e negarem que existam arminianos reformados. Armínio era pastor de uma igreja reformada na Holanda. Ele cria no aliancismo (inclusive o pedobatismo que os McAlister negam), eclesiologia reformada, Catecismo de Heildelberg e Confissão Belga (as duas confissões reformadas da época). Armínio não cria, evidentemente, no que veio a ser a TULIP (embora ele cresse na depravação total e, segundo alguns, na perseverança dos santos. Este último é um ponto de discussão). Além do mais, há arminianos que se declaram arminianos da Reforma ou arminianos reformados. Se os McAlister querem propor um pentecostalismo reformado por que, sem argumento sólido apresentado, negam que arminianismo reformado não existe? Na apresentação do livro, Franklin Ferreira chega a uma afirmação destoante e espúria que o arminianismo é um protestantismo sem reforma. Os McAlister fazem uma crítica à doutrina arminiana da graça preveniente afirmando que não tem respaldo bíblico. Sugiro a eles o livro Graça Preveniente de Valmir Nascimento (ed. Reflexão) e o livro Prevenient Grace de Brian Shelton. Nestes livros eles encontrarão bases argumentativas e bíblicas para a graça preveniente.
Para finalizar, constatei que os autores do livro analisado não dialogaram muito com teólogos acadêmicos pentecostais, mas sim, com, majoritariamente, escritores pentecostais não acadêmicos. Assim fica difícil retratar bem acerca do que se critica ou analisa. Citar Benny Hinn, T. L. Osborn, Valnice Milhomens ao invés de Roger Stronstad, Stanley Horton, William e Robert Menzies (este citado parcamente), Antonio Gilberto, Claudionor de Andrade e outros não é auspicioso.
Na minha opinião, de acordo com o que analisei sucintamente acima, o livro O Pentecostal Reformado não tem nada de pentecostal.